Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Cine Dica: Louis XIV, Baby Jane e Tio Bernard em cartaz

TRÊS FILMES EM EXIBIÇÃO NA CINEMATECA CAPITÓLIO PETROBRAS
A partir de quinta-feira, 06 de abril, entra em cartaz A Morte de Luis XIV, último filme do espanhol Albert Serra, inédito em Porto Alegre, exibido com destaque no Festival de Cannes de 2016, com o mítico Jean-Pierre Léaud interpretando o Rei Sol.
A partir de terça-feira, 04 de abril, resgatamos o documentário político Tio Bernard – Uma Antilição de Economia, de Richard Brouillette, que apresenta o pensamento de Bernard Maris contra o discurso econômico que serve a propósitos opacos, difundido todos os dias nos jornais e na televisão. O economista morreu em janeiro de 2015 no atentado ao jornal de esquerda Charlie Hebdo, em Paris.
Já que a relação turbulenta entre Joan Crawford e Bette Davis voltou à cena com a elogiada série Feud, os novos fãs das duas divas às avessas e os velhos admiradores do grande cinema hollywoodiano poderão reencontrar a partir de terça-feira, 04 de abril, o clássico O que Aconteceu com Baby Jane?, de Robert Aldrich, um dos diretores mais importantes da virada moderna em Hollywood nos anos 1950 e 60.

FILMES

A Morte de Luis XIV
(La mort de Louis XIV)
115 min., 2016, França/Portugal/Espanha
Direção: Albert Serra
Distribuição: Zeta Filmes

Agosto 1715. Depois de uma caminhada, Luís XIV sente uma dor na perna. Nos próximos dias, o Rei continua a cumprir seus deveres e obrigações, mas seu sono é intranquilo, ele tem febre, mal se alimenta e está cada dia mais fraco. Albert Serra reconstrói os dias da lenta agonia do maior Rei da França, interpretado magistralmente por Jean-Pierre Léaud, rodeado em seu quarto por seus fiéis seguidores e pelos médicos, e que marcará o fim de um reinado de 72 anos do Rei Sol. Exibição em DCP.
Classificação indicativa: 12 anos

Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
(Oncle Bernard - L'anti-leçon d'économie)
80 min, 2015, França
Direção: Richard Brouillette
Distribuição: Vai e Vem

Um filme em torno do pensamento do economista francês Bernard Maris, também conhecido como Tio Bernard, morto em janeiro de 2015 nos atentados ao jornal hebdomadário Charlie Hebdo, em Paris. Além de editor do semanário, Bernard era economista, professor universitário e autor de diversos livros na área de economia. Mas, para além das qualificações que podem ser elencadas a partir de seu extenso currículo, o que este documentário do diretor canadense Richard Brouillette deixa transparecer é o quanto Maris era, acima de tudo, um humanista. Pensador não ortodoxo ele pregava, de maneira muito racional, a desconstrução do discurso econômico hegemônico (ou do ‘terrorismo da palavra’, segundo seus próprios termos), denunciando sua incongruência, e se posicionando ferrenhamente em favor de valores coletivos e de bem-estar social: “Se tem duas noções que o capitalismo desconhece”, afirma Maris, “é a noção de bem e mal: o que importa aí é ganhar dinheiro”. A partir daí o que ele faz é esmiuçar, tentar destruir a “aura intocável” do discurso econômico que serve a propósitos opacos e que é difundido todos os dias nos jornais e na televisão em som uníssono. Exibição em DCP. Classificação indicativa: livre.

O que Aconteceu com Baby Jane? (a partir de 4 de abril)
(What Ever Happened to Baby Jane?)
134 min., Estados Unidos, 1962
Direção: Robert Aldrich
Distribuidora: MPLC

Bette Davis é Jane Hudson, uma artista que alcançou a fama quando menina e ficou conhecida como "Baby Jane". Agora, envelhecida e distante do público há muitos anos, vive encerrada em uma mansão com sua irmã, Blanche Hudson (Joan Crawford). Um acidente que selou a sorte das duas terminou a carreira brilhante de Blanche e acelerou a decadência geral de Jane. Disposta a brilhar nos palcos novamente, Jane volta a Baby Jane, passando por cima de tudo e de todos para atingir seu objetivo. A trama surpreende e mostra que as aparências enganam: afinal, o que terá acontecido a Baby Jane? Exibição em HD. Classificação indicativa: 12 anos.

GRADE DE HORÁRIOS
04 a 09 de abril de 2017

04 de abril (terça-feira)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – Cineclube Academia das Musas (O Touro, de Larissa Figueiredo)

05 de abril (quarta-feira)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – Lançamento do documentário Saúde da Família: Cultura, Alteridade e Formação

06 de abril (quinta-feira)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – A Morte de Luis XIV

07 de abril (sexta-feira)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – A Morte de Luis XIV

08 de abril (sábado)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – A Morte de Luis XIV

09 de abril (domingo)
16h – O que Aconteceu com Baby Jane?
18h30 – Tio Bernard – Uma Antilição de Economia
20h – A Morte de Luis XIV

terça-feira, 4 de abril de 2017

Cine Especial: Trilogia Godfather

Nos dias 08 e 09 de abril eu estarei participando do curso Trilogia Godfather, criado pelo Cine Um e ministrado pelo Jornalista  Fábio Rockenbach. Enquanto o final de semana não chega, vamos relembrar um pouco aqui uma das melhores trilogias do cinema de todos os tempos.  

O PODEROSO CHEFÃO
 
Sinopse: Em 1945, Don Corleone (Marlon Brando) é o chefe de uma mafiosa família italiana de Nova York. Ele costuma apadrinhar várias pessoas, realizando importantes favores para elas, em troca de favores futuros. Com a chegada das drogas, as famílias começam uma disputa pelo promissor mercado. Quando Corleone se recusa a facilitar a entrada dos narcóticos na cidade, não oferecendo ajuda política e policial, sua família começa a sofrer atentados para que mudem de posição. É nessa complicada época que Michael (Al Pacino), um herói de guerra nunca envolvido nos negócios da família, vê a necessidade de proteger o seu pai e tudo o que ele construiu ao longo dos anos. 
 
Baseado no romance de Mario Puzo, adaptado por ele e pelo diretor Coppola, é um espetáculo grandioso e belíssimo, que empresta um tom épico e inédito nos filmes de gângster. Pontuado por diversas cenas clássicas, tem um elenco impecável, uma fotografia primorosa (cortesia de Gordon Willis de Manhattan) e trilha sonora inesquecível de Nino Rota, conduzida pelo maestro Marmine Coppola, pai de Francis. O próprio cineasta dirigiu duas seqüências que deram continuidade a saga (74 e 90) e uma montagem dos dois primeiros filmes para ser apresentado para a TV. Vencedor de 3 Oscar.

De longe a obra máxima de Coppola e como eu disse no texto acima, são os números de cenas clássicas e marcantes que tornam o inesquecível e ganha status de obra prima. O filme possui uma lista extensa de cenas marcantes as minhas preferidas são essas:
 
A abertura (eu acredito na América)
A cabeça do cavalo na cama
O atentado contra CorLeone
A primeira vez de Michael (minha favorita)
O refugio de Michael em Corleone
A morte de Johnny
A morte de Corleone nas laranjeiras
A vingança de Michael
Fizeram as contas? Olha que tem bem mais durante o filme, mas daí ficaria a tarde toda escrevendo os detalhes de cada uma delas. 
                     O PODEROSO CHEFÃO: Parte II
 
Sinopse: Início do século XX. Após a máfia local matar sua família, o jovem Vito (Robert De Niro) foge da sua cidade na Sicília e vai para a América. Já adulto em Little Italy, Vito luta para ganhar a vida (legal ou ilegalmente) para manter sua esposa e filhos. Ele mata Black Hand Fanucci (Gastone Moschin), que exigia dos comerciantes uma parte dos seus ganhos. Com a morte de Fanucci o poderio de Vito cresce muito, mas sua família (passado e presente) é o que mais importa para ele. Um legado de família que vai até os enormes negócios que nos anos 50' são controlados pelo caçula, Michael Corleone (Al Pacino). Agora baseado em Lago Tahoe, Michael planeja fazer por qualquer meio necessário incursões em Las Vegas e Havana instalando negócios ligados ao lazer, mas descobre que aliados como Hyman Roth (Lee Strasberg) estão tentando matá-lo. Crescentemente paranóico, Michael também descobre que sua ambição acabou com seu casamento com Kay (Diane Keaton) e até mesmo seu irmão Fredo (John Cazale) o traiu. Escapando de uma acusação federal, Michael concentra sua atenção para lidar com os seus inimigos. 
 
Flashbacks interrompem a narrativa, para mostrar o surgimento do império Corleone. Ninguém em Hollywood acreditava, mas Coppola conseguiu fazer uma continuação ainda melhor que o filme original. O diretor e Mario Puzo criaram uma emocionante complemento do primeiro filme, revelando detalhes que explicam o comportamento dos personagens. Esse amargo e irresistível vaivém no tempo, que cobre três décadas e três gerações da família Corleone, forma também um grande e romântico painel sobre o EUA do século XX. Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado, ator coadjuvante (Robert De Niro, perfeito como o jovem Vito Corleone), trilha sonora e direção de arte.

Curiosidade: Para se preparar para o papel, Robert De Niro viveu durante certo período na Sicília. Ele faz parte do grupo de atores que ganhou um Oscar falando a maior parte de seus diálogos numa língua diferente da inglesa (os demais foram Sophia Loren, Roberto Benigni e Marion Cotillard).                  O PODEROSO CHEFÃO: Parte III
 
Sinopse: Nova York, 1979. A Ordem de San Sebastian, um dos maiores títulos dados pela Igreja é dada para Michael Corleone (Al Pacino), após fazer uma doação à Igreja de US$ 100 milhões, em nome da fundação Vito Corleone, da qual Mary (Sophia Coppola), sua filha, é presidenta honorária. Michael está velho, doente e divorciado, mas faz atos de redenção para tornar aceitável o nome da família Corleone. Na comemoração pelo título recebido, após 8 anos de afastamento, Michael recebe "Vinnie" Mancini (Andy Garcia), seu sobrinho, que a pedido de Connie (Talia Shire) é apresentado a Michael manifestando vontade de trabalhar com o tio. Nesta tentativa de diálogo a conversa toma um rumo hostil, pois participava também da reunião Joey Zasa (Joe Mantegna), que agora mantém o domínio de uma área outrora mantida por Don Vito Corleone, o pai de Michael. Vinnie é chefiado por Zasa, mas fala que não quer continuar, principalmente pela traição de Zasa de não reconhecer o poder de Michael. Vinnie é quase morto pelos capangas de Zasa e uma guerra pelo poder tem início. Um arcebispo da Igreja solicita a Michael US$ 600 milhões, pois resolveria o déficit da Igreja, oferecendo em troca que Michael ganhe o controle majoritário da Immobiliare, antiga e respeitável empresa européia de propriedade da Igreja. Michael concorda, mas isto deixa vários membros do clero contrariados, que não o aceitam por sua vida duvidosa. 
Menos exuberante que os anteriores, é mais tragédia intimista do que épico. O roteiro de Mario Puzo foi reescrito por Coppola, que o transformou na sofrida história, de um homem em busca de redenção. Pontos altos: Os closes de Al Pacino e o final acachapante, em que a descida ao inferno é entremeada pela encenação (por Franco Zeffirelli) da ópera cavalleria Rusticana, de Mascagni. Faz referencias explicitas ao assassinato do Papa João Paulo I e ás negociatas do Banco Ambrosian. Fotografia de Gordon Willis e musica tema de Carmine Coppola. Sofia Coppola (filha do diretor) faz aqui sua primeira (e graças a Deus a última) atuação na carreira, mas após severas criticas, preferiu seguir os passos do pai como cineasta, alcançando muito mais respeito e sucesso.
Curiosidade: A atriz que inicialmente iria interpretar Mary Corleone era Winona Ryder. Somente após a desistência de Ryder que Sofia Coppola assumiu o papel.

Interessados pela atividade terão mais informações como participar clicando aqui.


Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram

Cine: CineClube Academia de Musas

LARISSA FIGUEIREDO DEBATE O TOURO NO CINECLUBE ACADEMIA DAS MUSAS


Na terça-feira, 4 de abril, às 20h, a Cinemateca Capitólio Petrobras recebe a primeira edição do Cineclube Academia das Musas. Na sessão, o grupo de pesquisa sobre os cinemas realizados por mulheres em diferentes épocas, contextos e países, investiga o reino encantado que dom Sebastião fundou na Ilha de Lençóis, no Nordeste brasileiro, com a exibição do filme O Touro e a presença da diretora Larissa Figueiredo. O valor do ingresso é R$ 10,00.

O TOURO
78 min., Brasil, 2015
Direção: Larissa Figueiredo 
Quando o rei português dom Sebastião perdeu a batalha de Alcácer Quibir, seu corpo foi engolido pelas areias do Marrocos e desapareceu. Seu espírito, no entanto, organizou um exército que passou a explorar novas terras, até chegar ao Brasil. Na Ilha de Lençóis, no Nordeste brasileiro, dom Sebastião fundou seu reino encantado. Ele vagueia na forma de um touro negro, que tem uma estrela na testa. Um dia, sua filha voltará à ilha empunhando uma espada dourada. Exibição em DCP. Após a sessão, debate com a realizadora Larissa Figueiredo. 

LARISSA FIGUEIREDO
Larissa Figueiredo nasceu em 1988 em Brasília. Estudou Letras na UnB; Teoria do Cinema na Université Lumière Lyon 2, na França, e Artes Visuais/Cinema na Haute École d'art et design de Genève, na Suíça, onde teve aula com artistas como Miguel Gomes, Albert Serra e Apichatpong Weerasethakul. Trabalhou como montadora, entre outros, no filme “A que deve a honra da ilustre visita este simples marquês?”, dirigido por Rafael Urban e Terence Keller, premiado no 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “O Touro”, seu primeiro longa-metragem, recebeu o prêmio do Visions Sud Est, foi exibido como work-in-progress na Carte Blanche do 67º Festival Internacional de Cinema de Locarno e teve sua estréia mundial no 44º Festival Internacional de Cinema de Roterdã, onde foi um dos 12 concorrentes ao prêmio FIPRESCI da critica internacional. "O Touro" também foi exibido nas Competições Internacionais do FILMADRID e do V Lima Independiente, além de outros festivais no Brasil e no Exterior. Larissa se dedica atualmente ao desenvolvimento de seu próximo longa-metragem, “Agontimé”, que será filmado entre o Brasil e o Benim, na África. Este projeto recebeu o Prêmio FIDLab Sublimage 2015.

O GRUPO DE ESTUDOS ACADEMIA DAS MUSAS
O grupo de estudos Academia das Musas foi, de certa forma, uma decorrência do grupo de estudos Aurora, que começou em 2012 e acabou gerando a Revista Aurora e o fanzine Zinematográfo. Em 2015, o grupo Aurora realizou seus estudos em cima da tese de doutorado de Luiz Carlos de Oliveira Jr, "Vertigo - a teoria artística de Alfred Hitchcock e seus desdobramentos no cinema moderno", que parte do estudo do clássico Hitchcockiano como uma tese sobre a imagem e a representação. Em capítulo dedicado a discutir o ponto de vista feminino em Um Corpo que Cai (1958), surgiram conversas interessantes sobre o tema e, a partir das discussões geradas, após o fim da leitura da tese, resolvemos continuar nossos estudos por este viés. Porém, nos pareceu pouco produtiva, e também pouco sedutora, a ideia de trabalharmos com questões da representação feminina ou da mulher no cinema, por acreditarmos que faríamos sempre as mesmas análises a partir de diferentes objetos. Decidimos que nos interessava pensar no ponto de vista da mulher por meio da sua produção fílmica, através da história do cinema. Essa escolha também vem ao encontro da opção por fazer uma pesquisa afirmativa. Não obstante as críticas a respeito da falta de mulheres no campo audiovisual (críticas estas completamente acertadas), conhecíamos poucas (ou não conhecíamos, na verdade) iniciativas que estudassem as cineastas que conseguiram de fato produzir seus filmes dentro da(s) história(s) do cinema – é de conhecimento público que no início da indústria cinematográfica as mulheres ocupavam diversas funções, como diretoras, roteiristas e montadoras, e que este número reduz drasticamente entre as décadas de 30 e 70, quando então as mulheres começam a se organizar para uma retomada, ainda assim ainda não alcançamos o patamar do cinema realizado por homens. Então a ideia era (e é) fazer uma pesquisa das mulheres que fizeram cinema ao longo da história e de realizadoras atuais, e difundir as suas obras. 
Quando decidimos continuar nossos estudos em direção a este recorte de pesquisa - diretoras mulheres - achamos melhor trocar o nome do grupo para que ficasse mais clara a nossa intenção. A ideia de batizarmos nosso grupo com o nome do filme de Jose Luis Guerín surgiu após a exibição deste em uma sessão especial que aconteceu em Porto Alegre, dentro do projeto Sessão Plataforma. Em Academia das Musas (2015), que é uma resposta ao filme anterior do diretor – como o mesmo revela em entrevista – Na Cidade de Sylvia (2007), temos uma “escola” de arte e filosofia, formada basicamente por mulheres, onde o professor Raffaele Pinto (!) explora teoricamente a figura das “musas” na história da filosofia ocidental, enredando-se com as estudantes e sua esposa em relações de sedução, de poder e de disputa intelectual. Em determinada passagem do filme, uma das personagens lamenta-se por ter perdido um namorado que tinha nela uma fonte de inspiração ao mesmo tempo que a inspirava a escrever, por se tratar de um romance epistolar. O professor, ao consolá-la, pondera que a escrita, a poesia, está nela, e que esta a encontrará (a poesia) também em outros amantes. Assim, o filme faz uma interessante reflexão a respeito da passividade ou da atividade da figura mitológica da musa, transpõe esta reflexão para os dias atuais, nos faz pensar que a “musa” inspiradora, é também inspirada, isto é, é objeto, ao mesmo tempo em que é sujeito da criação artística, da mesma forma que o sujeito moderno, o sujeito do cinema.
Nos pareceu uma divertida coincidência assistirmos ao filme naquele momento. Academia das Musas é a apropriação de duas ideias que de certa forma questionamos com as práticas do nosso grupo de estudos: a “academia” como único local legítimo de produção de conhecimento e de pesquisa, e “musas” como entidades femininas de culto da beleza e da inspiração. Apropriar-nos e subvertermos conceitos que historicamente ajudamos (as mulheres) a erigir nos pareceu mais interessante do que jogá-los na fogueira. Tomado como reflexão ou como chiste, é um nome que nos diz respeito: a sala de cinema é nossa Academia e nos inspiramos em nossas musas inspiradas.

Sessões especiais realizadas em 2016:
* Mostra “Minha História, Sua História”: mostra em parceria com a sala Redenção de Cinema Universitário / UFRGS
Bruta Aventura em Versos, Letícia Simões (2011)
Diário de Uma Busca, Flávia Castro (2010)
Os Dias com Ele, Maria Clara Escobar (2013)

* Todos os Outros, Maren Ade (2011) – sessão promovida pelo Academia das Musas em parceria com o Instituto Goethe
* 35 Doses de Rum, Claire Denis (2008) e Atlântico, Mati Diop (2009) – sessão especial do grupo dentro da mostra Semana da Francofonia, da CCVF / SMC / Prefpoa
* Amigo Mio, Jeanine Meerapfel (1993) – sessão especial do grupo dentro da mostra O Cinema das Diretoras, promovida pelo Instituto Goethe.
* Sem Medo da Morte, Claire Denis (1990) – sessão especial do grupo dentro da mostra Corpo, paisagem e estranhamento: o cinema sensorial de Claire Denis, da Sala Redenção/UFRGS. 
* The Slumber Party Massacre, Amy Holden Jones (1982) – sessão especial do grupo dentro da mostra A Vingança dos Filmes B.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: O Ornitólogo



Sinopse: Fernando (Paul Hamy) é um solitário homem de 40 anos que trabalha como um ornitólogo. Ele decide viajar pelo curso de um rio a bordo de um caiaque, mas quando uma correnteza forte derruba sua pequena embarcação, ele inicia uma jornada sem volta e repleta de perigos.

O cineasta João Pedro Rodrigues, talvez tenha chegado ao ápice com o seu filme O Ornitólogo. Aqui, Rodrigues fala sobre sexualidade, gênero, orientação sexual. Fala também sobre o nu masculino, fala sobre a delicadeza e o lado sensual do homem, construindo a imagem de forma lírica e poeta a partir de um lado de graça com teor erótica. Quebra com os estereótipos do lado masculino, desconstruindo e escancarando a possibilidade de ser uma  camada frágil, onde o orgulho da masculinidade, por vezes, desconstrói o melhor e o verdadeiro potencial do homem como deveria ser no mundo do qual ele vive.
No filme O Ornitólogo, o uso desses temas é de uma forma para provocar, a nos caçoar o pudor: a libido e o sadismo. No longa estrelado por Paul Hamy, a fragilidade masculina é colocada a prova,onde são filmados de uma forma  clara, contestando os interditos sociais que mantém certo preconceito com esse tipo legítimo de representação e, sobretudo, como esses ecoam no cinema a partir do fato da encenação explícita destes ser contornada por mero pudor antiquado. O Ornitólogo é em essência de uma libertação dos quais muitos anseiam em ter, mas não batem no peito para conseguir.
Mas o pensamento sobre a liberdade em meio ao mundo do qual vive é uma situação muito mais complexa do que se imagina. O personagem, do qual gradualmente descobrimos que é gay e ateu, ao que parece, parece ser uma releitura de Santo Antônio de Pádua (um lisbonense, assim como João Pedro Rodrigues). Assim como o santo, o protagonista também se chama Fernando no início de sua jornada, Antonio de Pádua, se diz, teria sido batizado como Fernando, mas em determinado momento de epifania em sua vida altera de nome para marcar, com solidez, as mudanças as quais sofreu. E, obviamente, quando isso se atinge no filme o Fernando de Paul Hamy torna-se Antônio. Mas que tipo de pessoa era Antonio antes desses eventos fica nas linhas subliminares da narrativa e cada um tendo uma interpretação sobre o que assiste na tela.
O filme é sábio ao possuir inúmeras imagens cheias de simbolismos, das quais consegue passar o tema de diversos assuntos, seja catolicismo ou até mesmo mitológico. Porém, o tema principal se mantém intacto que é sobre a libertação, mesmo com todas variáveis sendo incrementadas no decorrer da obra. Mais do que tudo, é uma libertação que bate de frente contra o preconceito e repreensões reacionaristas.
O cineasta então consegue fazer tudo isso de uma forma mística e surrealista. A imagem de Santo Antonio de Pádua, segundo dizem, foi usada durante ditadura de cunho extremo-direitista salazarista que regeu Portugal, sem tantas lembranças positivas ao democrata e antifascista, por quase quatro décadas, como uma hoste e um bastião do nacionalismo e de um tradicionalismo religioso demasiadamente impositor, que pregava a luta contra as ações das quais eles achavam subversivas.
No decorrer da trama, o filme assume forma subitamente surreal, usando de personagens que surgem no decorrer da trama, cuja suas ações beiram a insanidade, ou crendices sem muito fundamento científico e fazendo do protagonista demonstrar todo o seu lado cético. Porém, devido a aparição dessas figuras misteriosas, fazem então com que o protagonista se encontre numa situação de prova de fogo perante o que sempre acreditou. No principio, O Ornitólogo  torna sagrado o que muitos consideram heresia.
Essa na verdade é a peça do jogo central da trama. Claramente, Rodrigues não propõe uma reflexão anti-moral, mas somente propõe para que a gente faça uma reflexão sobre até que ponto o discurso moralista pode realmente ajudar o ser humano, quando na realidade está mais é ajudando o estado político do mundo do qual determinas religiões vivem. Fernando. Rodrigues é primoroso em dirigir este filme, até porque a fotografia de Rui Poças (fotógrafo de do inesquecível Tabu) é impressionante na sua forma, da qual dialoga muito bem com a proposta do filme como um todo. 
Tudo flui de uma forma coesa  com cenas de tensão  e suspense, muito bem organizadas com o seu simbolismo. O Ornitólogo é um filme corajoso em sua proposta e seus simbolismos sintetizam um lado humano do qual muitos tem medo de abraçar como um todo.    



Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram

NOTA: O CHEFÃO NA MÍDIA



Curso sobre o Poderoso Chefão foi destaque de hoje no Jornal do Comércio. O curso será próximo final de semana. Participem comigo.



Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram