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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Cine Dica:Em Cartaz: JOAQUIM


Sinopse:A história dos acontecimentos e fatos que levaram Joaquim José da Silva Xavier, um dentista comum de Minas Gerais, a se tornar mais conhecido pela alcunha de Tiradentes, transformando-se em um importante herói nacional e mártir que veio a liderar o levante popular conhecido como "Inconfidência Mineira".



Eu cresci na escola estudando sobre Tiradentes, de que ele foi um herói, revolucionário e homem do povo. Curiosamente eu até mesmo  confundia a imagem desse personagem histórico com o de Jesus Cristo, pois conheci muitas ilustrações das quais lembravam muito o filho de Deus. Logicamente ao longo de nossa história, os historiadores aumentaram e muito a imagem daquela pessoa, mas esqueceram de mencionar que, acima de tudo, também era humana e cheia de falhas.
No mais novo filme de Marcelo Gomes (O Homem das Multidões), o cineasta cria a desconstrução de um mito e dando lugar à imagem de um ser humano cheio de falhas, mas com sede de ambição e por algo maior. Joaquim (Júlio Machado) é um homem com o desejo de crescer na vida para servir e proteger os interesses da coroa portuguesa, mas ao mesmo tempo, tem o desejo ainda maior de ser rico e libertar a escrava Preta (Isabél Zuaa) e para assim obter ela por completo. Em sua cruzada na busca por ouro, Joaquim descobre aos poucos certos valores que o próprio ouro não compra e começa então a construção da imagem da qual todos nós conhecemos.
Claramente inspirado no clássico Crepúsculo dos Deuses de Billy Wilder, o começo do filme é uma forma de nos tirarmos do conforto de nossas lembranças sobre o que a gente já havia aprendido com relação a esse personagem histórico e já nos prepararmos para o que vier a seguir. Na apresentação, Joaquim (em narração off) tem plena consciência de que já está morto, mas que se tornou mártir e fazendo parte de livros de história para crianças da escola lerem. Com a sua cabeça decepada em cena, o protagonista diz que realmente perdeu a cabeça, mas não a partir de um bem maior, mas unicamente por ter seguido caminhos dos quais no principio não lhe interessava, mas em sua cruzada acabou lhe fazendo enxergar de uma nova forma.
Habilidoso como ninguém, Marcelo Gomes praticamente carrega a câmera no ombro e fica focando cada um dos personagens, como fosse uma espécie de registro histórico sobre os verdadeiros fatos que ocorreram naquele tempo. A câmera se torna então os nossos olhos e fazendo a gente se tornar um acompanhante desses personagens e testemunhar cada uma de suas ações. Não há como não se chocar com palavras e ações vindas de Joaquim, principalmente em cenas em que ele coloca os seus desejos para fora, revelando uma faceta obscura e da qual deixava lhe dominar.
Júlio Machado (Hoje eu quero voltar sozinho) carrega o filme nas costas, ao criar para si a imagem de um Tiradentes até então inédito em nosso cinema e não se preocupando com o que os historiadores e amantes da imagem do personagem histórico irão pensar. Porém, Isabél Zuaa como Preta dá um verdadeiro show em cena, cuja sua boa interpretação lhe faz injetar uma ambiguidade genuína para a sua personagem e fazendo com que ela se torne a válvula de escape para o nascimento dos acontecimentos que viriam a seguir. Ambos em cenas geram momentos tensos, provocativos e bem corajosos.
A partir daí, nos encaminhamos para a cruzada da qual Joaquim lidera um pequeno grupo em busca de ouro. É nesses momentos que o filme nos brinda com cenas curiosas, como quando o protagonista testemunha a canção de um índio e de um escravo, onde juntos cantam musicas diferentes por não se entenderem, mas bastou seguirem o ritmo para que então se unissem num único momento. São cenas simbólicas como essa que fazem de Joaquim mudar a sua forma de pensar e ver o mundo do qual ele vive de uma forma diferente.
O filme então abraça como um todo ás mudanças de pensamentos graduais das quais o personagem passa, para então assim se encaminhar para a figura da qual sempre nos ensinavam sobre ele. Porém, não espere pelo que nós já sabemos sobre ele serem levados para esse filme, pois o cineasta opta por fazer a gente pensar sobre os acontecimentos dos quais a gente já conhece, mas ao mesmo tempo alinhado com essa nova perspectiva com relação a esse personagem histórico. Talvez essa atitude possa vir decepcionar alguns, mas essa sensação não dura muito, pois em seu final já estamos mais do que absorvidos com a sua proposta autoral.
Simples, mas ousado em sua proposta, Joaquim é uma visão corajosa com relação a um personagem histórico tão conhecido e que com certeza irá reacender inúmeros debates pelo Brasil como um todo. 


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