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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 25 de abril de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA



Sinopse: Ao voltar a trabalhar em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, após sair da prisão, a doutora Nise da Silveira (Gloria Pires) propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.


O filme Julio Sumiu foi apenas um passo em falso na carreira de Roberto Berliner, sendo que ele já havia criado bons trabalhos na área de documentários como A Pessoa É para o que Nasce, Herbert de Perto e A Farra do Circo. Ao dirigir Nise: O coração da loucura, ele trás um pouco do ar de documentário, através de uma câmera meio tremula na mão, para se criar uma sensação de maior veracidade sobre a saga da Dra. Nise da Silveira, psiquiatra que teve a ousadia e coragem para tratar os pacientes (clientes na visão pessoal dela) que viviam jogados num hospício na década de 40 e resolve então tratá-los de uma forma digna. Embora seja um drama não espere por algo piegas, pois embora melodramático, o filme é cheio de inúmeros momentos, dos quais a pessoa não desprende em nenhum momento da cadeira e fica até mesmo corroendo as unhas de aflição sobre o que pode acontecer a seguir. 
Roberto Berliner demonstra total sensibilidade ao dirigir os atores, principalmente para eles se sentirem a vontade e nos apresentar gradualmente cada um desses personagens que, na maioria deles, eram desconhecidos para o público em geral. O filme é uma bela oportunidade de conhecer Nise da Silveira (1905 – 1999) mulher a frente do seu tempo e que não se intimidou com o machismo ou com a medicina atrasada da época. Demonstrando ser tolerante, mas ao mesmo tempo criativa com os seus clientes, ela teve a proeza de encaminhar as pinturas deles, que foram criadas durante as sessões de terapia, em museus para que as pessoas apreciassem as obras.
Devido a sua forma incomum de cuidar dessas pessoas, ela chegou a trocar cartas com Carl Jung, numa época em que o eletrochoques e outros métodos, dos quais são proibidos atualmente, eram considerados erroneamente como técnicas revolucionarias para as doentes mentais.
Um trabalho como esse ser transportado para as telas não é dos mais fáceis, principalmente pelo fato que requer verossimilhança, ao passar uma realidade dura e crua, mas ao mesmo tempo com uma chama de esperança no final do túnel. Tendo se entregado ao papel literalmente, Gloria Pires nos brinda com o melhor papel cinematográfico dela dos últimos tempos, sendo algo que não se via desde quando ela atuou em É Proibido Fumar. Em cena, Gloria transmite toda a virtude, boa vontade e coragem que a verdadeira Nise tinha e por alguns momentos se esquecemos que estamos assistindo, não uma atriz, mas sim a personagem histórica.
Como eu disse acima, o filme faz com que a gente fique com tensão em alguns momentos. Em um desses momentos, por exemplo, a Dra. Nise se apresenta aos seus clientes e pede para que eles se sentem para começar a conversa. É nesse momento em que a câmera rodopia e faz com que pareça que o local saiu do controle, mas que gradualmente as coisas vão sendo controladas, graças à paciência da médica.
A direção de arte da obra é algo que também merece atenção, mesmo sendo ela discreta em alguns momentos. De um ambiente desolador e opressivo, o lugar vai ganhando cores cada vez mais quentes, isso graças aos raios de sol, que gradualmente vão invadindo o cenário e dando mais vida para aquele lugar antes semi morto. Isso causa mudanças, até mesmo para um dos enfermeiros, que de intolerante, passa agir de uma forma mais meiga com os clientes.
Curiosamente, quando o filme foi exibido no Festival do Rio no ano passado, Nise: O Coração da Loucura teve em sua platéia ex-pacientes da verdadeira Nise, que se emocionaram com suas representações na tela. O filme acabou sendo aplaudido e obtendo o  prêmio do público do festival. A trama de Nise também nos permite fazer uma reflexão sobre os tipos de tratamento que os pacientes eram submetidos naquele tempo e fazendo uma comparação com os tratamentos de hoje.
Embora tenhamos evoluído com relação aos avanços da medicina, é triste constatar que hoje em dia essas pessoas que sofrem com problemas mentais ainda sofram com preconceito, sendo que, o melhor remédio, seja prestar atenção neles e ouvi-los o que eles têm a dizer. Em tempos de crise política, onde a intolerância e a falta de informação sobre diversos assuntos se encontram em pauta, Nise: O Coração da Loucura faz com que o cinéfilo saia do cinema com a fé renovada e com esperança de um futuro melhor.  

  
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