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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Cine Especial: Abbas Kiarostami: A invenção do real: Parte 2



Nos dias 12 e 13 de novembro eu irei participarei do curso Abbas Kiarostami: A invenção do real, criado pelo Cine Um ministrado pela jornalista Ivonete Pinto. Enquanto os dias da atividade não chegam, por aqui eu irei relembrar um pouco de cada um dos seus filmes, dos quais ele transmitia o seu lado mais criativo. Algo que infelizmente se encontra cada vez mais raro  no cinema atual. 



Gosto de Cereja (1997)



Sinopse: O filme mostra a cruzada de um homem que procura por alguém que o enterre após seu suicídio. Apenas um turco, que também tentou se suicidar no passado, aceita o convite.


Mais do que uma obra prima, Gosto de Cereja é umaobra-contrutora. Assistir a cruzada de Badii  é uma eterna e angustiante dúvida sobre os reais motivos que o levaram a querer perder a vida de uma forma tão imprevisível. Talvez ajam filmes similares como esse, mas, mas poucos nos envolvem tanto. Talvez a câmera sempre perto, por vezes dentro outras vezes fora do carro do suicida, nos faça querer dizer algo. Kiarostami faz da aridez de Teerã um agravante ao incomodo causado pela situação.  O final é um verdadeiro choque. Vemos os atores, o diretor e as câmeras que nos fazem repensar que tudo era um filme e nos força a distanciar do que vimos pelos 90 minutos anteriores. Esse distanciamento é capaz de fazer com que saibamos que apesar da história, há vida por traz das câmeras.

 

O Vento Nos Levará (1999)



Sinopse: Munido de câmera fotográfica e telefone celular, um estrangeiro no Irã profundo é tratado pelos moradores da vila de casas de barro Siah Dareh, no Curdistão iraniano, como o “engenheiro”. No entanto, ele não chegou de Teerã a serviço da engenharia, mas da espera. O real motivo da viagem é uma anciã à beira da morte.

O tema da dialética entre a morte e a vida, a reflexão sobre o dispositivo cinematográfico, as paisagens encantadoras permanecem nesse filme assim como ocorre em O gosto da cereja. É um tipo de filme que nos lembra o quanto o cinema é arte e faz com que entre na nossa mente e não faz com que a gente esqueça após a sessão. A sensação que se passa é que o filme se dilata através da  imaginação e da rememoração.
É um filme que fará você sentir do que entender, de maneira que o sentir se torna mais interessante do que compreender. A imagem fixa dos campos quando o herói passa na garupa da bicicleta do médico velhinho, na realidade é a imagem do próprio paraíso superando a morte que o cinema torna possível. 
  

Dez (2002)



Sinopse:O filme mostra o lado urbano do Irã, focando os sonhos de sua classe média, mostrando um lado político de confronto nas relações de um taxista com seus passageiros.

Dez é um filme político. Especialmente por duas frentes: a cinematográfica e a social, digamos assim. Cinematográfica e o tempo demonstrou toda a imensa relevância que esse filme tem, certamente, no sentido de ansiar um filme quase que sem diretor. Ora, nesse instante mesmo, o filme de Kiarostami revela-se um pleno filme de Kiarostami. Nesse processo, quando o diretor iraniano decide colocar duas câmeras dentro de um carro, uma acompanhando a motorista, outra acompanhando o carona, sua obra toma a naturalidade das interpretações e o processo de montagem do filme como elementos de norteação de sua obra.
A mulher que é tão oprimida na realidade iraniana passa a ser o objeto de contemplação e peça chave da história, infiltrando-se assim, no meio do caminho da psicanálise que a coloca diante dos complexos freudianos destinados à ela: O Complexo da Castração, o Complexo de Édipo e a mulher como objeto de contemplação. Tudo isso ilustrado no filme pela representação da repressão feminina no Irã, pelas atitudes, demasiadamente, radicais e machistas do filho diante do ciúme implícito da mãe com o padrasto, e, finalmente, pela mulher como objeto de contemplação (voyerismo), ressaltada nos close-up’s.
  

Five Dedicated to Ozu  (2003)



Sinopse: Em planos-sequências, o documentário apresenta cinco situações cotidianas que acontecem à beira-mar. Um pedaço de madeira que é levado pelas ondas. Pessoas andando na praia. A praia obscura no inverno. Um grupo de patos atravessa a água. Rás em sinfonia enquanto a tempestade cai.


Kiarostami afirmou na época ao ter filmado esse filme que sua intenção era escapar da escravidão da narrativa. O filme, realizado em câmera digital, quase sempre fixa, é composto por 5 planos-sequência de natureza e movimentos humanos com cerca de 10 a 20 minutos cada. No primeiro bloco, observamos um toco de madeira na linha divisória entre a areia e o mar sendo arrastado por ondas que o quebram em dois. Um pedaço desaparece do quadro, enquanto o outro permanece na beira da praia. O quadro escurece. Inicia-se o bloco seguinte. Pessoas caminham e conversam no calçadão. A tela, agora branca, finaliza o bloco. No terceiro, cães sentam-se à beira do mar, alternam de posição até deitarem todos sobre a areia. Em seguida, um grupo de patos cruza a tela em ritmos diversos. No último bloco, diante de uma tela inicialmente negra, lentamente distinguimos o reflexo da lua, aparecendo e desaparecendo do quadro junto a sons de sapos a coaxar, trovoadas, chuva.


  Shirin (2008)



Sinopse:Cento e quatorze atrizes de teatro e cinema iranianas e uma estrela francesa são filmadas em close em uma sala de cinema. Expectadoras mudas de uma representação do poema persa Khosrow e Shirin. O jogo aqui é que o espectador nunca vê o desenvolvimento do texto poético no palco; vê apenas as reações que as atrizes na plateia esboçam diante da encenação.


A obra é uma declaração de amor ao público espectador, ao fascínio daqueles que dividem a mesma sala, o mesmo teatro, mas não as experiências; vivenciadas sozinhas no íntimo de cada um. “Nenhuma ópera, nenhum espetáculo existe sem público. Depois que todos vão embora, a obra só existe no imaginário do espectador”, afirmou o cineasta na conferência para a imprensa na época que o filme foi exibido.
Foi munido desse pensamento que Kiarostami acionou seu espírito vanguardista. Basta imaginar um filme integralmente passado em supercloses sobre os rostos de mulheres na platéia de uma peça teatral. A narrativa é totalmente construída através do som que ouvimos sair da tela e das expressões e emoções dos belos semblantes femininos, entre eles o de Juliette Binoche, sendo que atriz voltaria a trabalhar com o cineasta em Copia Fiel. 
 

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