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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: JULIETA

Sinopse: No ano de 1985, Julieta (Adriana Ugarte na fase jovem) tinha muitos sonhos e planos para a sua vida. Trinta anos se passam e Julieta (Emma Suárez) não tem contato com a filha, na verdade mal a conhece, seus sonhos não foram realizados e ela está à beira da loucura.


Você está caminhando pela calçada, mas um casal está indo em direção a você. Você não desvia para o casal passar e, devido a isso, o casal sai da calçada e é atropelado por um carro que estava passando. Não foi intencional, mas logicamente você sentirá uma culpa, da qual pode lhe perseguir pelo resto da vida.
Culpa e responsabilidade pelos seus atos, por vezes, são temas recorrentes em alguns dos melhores filmes de Pedro Almodóvar, que vai de Carne Tremula á Fale com Ela. O universo feminino é um elemento que representou esses temas em seus filmes e, por possuir uma sensibilidade na criação de tramas como essa para o cinema, é sempre um prazer em ver que ele ainda não perdeu a mão em criar histórias, que das quais as mulheres são o seu verdadeiro centro do movimento das peças centrais dos acontecimentos. Julieta não só é um belo retorno a esse tipo de filme do qual ele bem faz, como também percebemos que ele ainda funciona e muito bem.
Na abertura conhecemos Julieta (Emma Suárez) mulher, aparentemente, bem sucedida, mas que no fundo guarda alguma tristeza. Após cruzar com alguém familiar do passado, ela descobre que sua filha, da qual não a vê há anos, está mais próxima do que imagina. A imagem de mulher forte dá lugar a uma pálida imagem do que já foi um dia, mas ao mesmo tempo readquirindo o desejo de reencontrar a filha que amava.
Baseado na obra da escritora canadense Alice Munro, o filme pode ser visto numa espécie de três atos, das quais a fotografia representa cada período do qual os personagens participam. De cores muito quentes do primeiro ato, o segundo vai demonstrando sinais de um universo menos colorido, para logo em seguida dar lugar a um terceiro ato de cores frias e representando o estado de espírito da protagonista. Interpretada pela atriz Emma Suárez no presente, sua personagem é movida pelo desejo, remorso e saudade, mas que só vamos compreender melhor esses sentimentos dela através dos flashbacks.
O filme retorna a 1985, onde vemos Julieta (agora interpretada por Adriana Ugarte), uma professora em busca de seus sonhos, mas que o destino criará outros planos para ela. Após uma situação imprevisível, do qual ela cria para si a sua primeira grande culpa, ela conhece Xuan (Daniel Grao), do qual ambos criam uma ardente relação. Tempos depois ambos se reencontram, se casam e dão a luz a sua única filha.
Nesse primeiro ato, percebemos que Almodóvar visita, mesmo que rapidamente, um pouco do que já foi visto em seu filme Fale Com Ela, mas que, curiosamente, dá lugar a elementos inusitados que lembram até mesmo o clássico Rebecca de Hitchcock. A comparação se fortalece principalmente devido a duas peças chaves: a trilha sonora do qual lembra os melhores filmes do mestre do suspense e a presença da atriz (musa) de Almodóvar, Rossy de Palma, que aqui sua personagem mais parece uma versão espanhola da vilã vista no clássico Rebecca. 
Essa pequena homenagem é um tanto que passageira e dando lugar à construção dos personagens, principalmente da relação mãe e filha. A relação de ambas funciona graças à interpretação lúcida, porém forte da atriz Adriana Ugarte, da qual passa toda a força de vontade da personagem, mas ao mesmo tempo demonstrando uma fragilidade fora do comum, principalmente quando ocorre o segundo acontecimento que criará a sua segunda grande culpa que nascerá dentro dela. Contudo, essa culpa que ela sente não é exatamente o motivo da separação de ambas, do qual ela somente irá descobrir anos mais tarde, através de fatos que até mesmo ela desconhecia.
As revelações que se destacam no terceiro ato final da trama, na realidade seriam uma metáfora que o cineasta incrementa, mas em forma de crítica com relação ao avanço do retrocesso e a força do conservadorismo que anda se manifestando, não só na Espanha, como também em outros países como o Brasil, por exemplo. A simples opinião, ou maus pensamentos de outras pessoas, pode sim influenciar o caminho de outros e gerar, talvez, hostilidade, mesmo contra as pessoas da qual ama. Almodóvar coloca todos esses pontos de interrogação através dessa tumultuada relação entre mãe e filha que, mesmo próximas quando ainda eram novas, certas feridas eram dolorosas demais para se colocar para fora.
Claro que nada disso funcionária se não fosse pelo belo desempenho de todo o elenco principalmente de Adriana Ugarte e Emma Suárez sendo ambas Julieta. No decorrer do filme, acabamos tão envolvidos com os personagens, que mal nos damos conta da troca das atrizes para interpretar a protagonista e quando isso acontece à diferença de ambas é praticamente nula e a troca quase despercebida. Com pouco recurso, Almodóvar prova que não é preciso efeitos de rejuvenescimento ou de envelhecimento para criação de um personagem de diversas épocas, pois basta um bom desempenho do interprete que isso tornará mais do que convincente.
Com um final em aberto e levantando inúmeras interpretações com relação ao destino dos personagens, Julieta é puramente Almodóvar, onde ele coloca toda a sua sensibilidade na criação de um universo feminino complexo, mas por mais imprevisível que ele seja sempre soará humano. 

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