Quem sou eu

Minha foto
Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

Pesquisar este blog

domingo, 26 de maio de 2013

Cine Especial(HQ): ESTRANHOS NO PARAÍSO: PARTE 6

"Eu não sei de que tecido é feita essa nossa vida, mas do outro lado de nossas dores mortais, há um lugar de santuário".
-Katchoo. 


 ESTRANHOS NO PARAÍSO - SANTUÁRIO 

Sinopse:Após dez anos sem ver sua melhor amiga, Francine a encontra por acaso em um restaurante de hotel, mas perde Katchoo de vista antes que possa falar com ela.Deprimida, mergulhada em um casamento infeliz, Francine desmorona em lembranças de Katchoo, David e de suas vidas juntos. Aos poucos são reveladas as razões para as duas terem se separado por tanto tempo. Enquanto isso, a senhora Peters, preocupada com a infelicidade crônica de sua filha, entra em contato com Katina Choovanski e proporciona o reencontro das duas. 


Às vezes, a gente se pega recordando de um passado distante, de uma época que não volta mais e que se da conta de que os pequenos momentos valeram por toda uma vida. Numa época da escola em que eu era desprezado pelos outros alunos (por ser diferente), nunca me esqueço de uma amiga que veio até mim para a gente se entreter no salão. Não era nada demais, apenas ficávamos correndo um do outro, mas são pequenos momentos como esse que sinto muita saudade. Mas então o que dizer de pessoas que cruzam as nossas vidas, que nos completa, mas que por um motivo ou outro o destino acaba nos separando?
Com esse pensamento, não tinha como não me identificar com Francine, que ao rever de longe a sua melhor amiga (e grande amor) Katchoo, imediatamente ela se lança em um mar de lembranças, que na realidade correspondem aos arcos anteriores Love Me Tender, Inimigos Mortais e Tempos de Colégio. Para os fãs brasileiros dessa HQ, não foi fácil descobrir como seria esse reencontro, pois a primeira vez que vimos uma Francine mais velha e observando Katchoo de longe, foram á exatos intermináveis dez anos e que o ultimo volume  Tempos de Colégio havia sido lançado á seis longos anos. Não foi fácil, mas antes tarde do que nunca e editora HQM lança, não só o melhor arco da série até aqui, como também a melhor leitura que eu tive nesse ano.
Retornando a trama, Francine acaba por sem querer perdendo a chance de falar com Katchoo e imediatamente sucumbe a depressão e bebida em um bar. No retorno para casa, ela mergulha em boas lembranças em que vivia com Katchoo e David. São impressionantes nesses momentos os desenhos que Terry Moore cria, pois na pagina 15 ele faz uma transição entre o futuro e o presente de uma forma tão perfeita, que da a sensação que estamos assistindo aqueles flashback que acontecem em determinados filmes. De quebra, Moore cria uma bela homenagem há um dos quadros do pintor Potthast, em que os protagonistas estão observando em um museu e é aonde acontece uma incrível coincidência.

De volta ao futuro, Francine deseja loucamente voltar para casa, mas não se refere ao seu antigo lar com a mãe, mas sim se referindo a Katchoo. Para a surpresa do leitor, a mãe dela toma uma difícil decisão. Após isso, somos levados a saber onde Katchoo está vivendo, para logo em seguida receber uma importante ligação que mudaria os seus próximos dias. Até a pagina 42, Terry Moore cria um cenário, onde a trama transita entre o humor pastelão e o mais puro drama, sendo que esse ultimo é muito bem representado por uma Francine em frangalhos, arrependida de ter tomado certas decisões na vida e de se dar conta de que não tem como mudar isso.
Mas para a sua surpresa, Katchoo se encontra em sua cozinha, ao lado de sua mãe e filha fazendo biscoitos. É ai leitor, que a personagem se desmonta e é nas próximas paginas  que Terry Moore me pegou de jeito: duas paginas, onde o escritor soube transitar tranquilamente entre a literatura e HQ, onde somos brindados com uma das leituras mais emocionantes e tristes que eu li esse ano, pois eu me identifiquei tanto com ela, que faço questão de escrevê-la aqui embaixo para sentir as palavras, junto com as paginas originais publicadas nos EUA:    

SANTUÁRIO: POR KATCHOO.

Quando eu tinha 13 anos,
vi um colega da minha escola
morrer no concreto, ao
lado de um ônibus escolar.
Na barulhenta brincadeira
das crianças empurrando,
o garotinho foi atirado
na frente do ônibus que se
aproximava e acabou atropelado.
Esperando pela ambulância,
nós ficamos ao redor dele, 
como uma parede de vida,
e assistimos a sua morte.
Primeiro ele balbuciou
sem poder se mexer, seus
olhos fechados bem forte.
Mas enquanto a multidão
relembrava o terrível momento,
de novo e de novo, de vários
pontos de vista, o garoto foi se calando.
Ele abriu os olhos e olhou além de nossas
silhuetas para ver o sol, numa calmaria de paz.
Então percebi que ele não mais via o céu,
nem sentia a brisa do outono,
nem sentia dor alguma ou ouvia o som, 
dos professores chorando.
Eu não sei de que tecido
é feita essa nossa vida, 
mas do outro lado de nossas
dores mortais, há um lugar de santuário.
Eu sei por que uma vez estive ao lado
de um garotinho e o vi encontrá-lo.
Anos depois, segurei a mão de Emma
até ela achar seu santuário na neve
que caia do lado de fora de sua janela. 
Então eu encontrei no banco de traz
de uma viatura que corria, sob as lagrimas de Francine. 
Acho que foi por isso que voltei. 
Há algo mais importante que os
trabalhos que temos e
os papeis que interpretamos.
Algo além da forma
e da direção das nossas mudanças.
Tem a ver com quem tocamos e porque,
e isso importa mais do que
podemos entender ou talvez lembrar.
Então, não importa o que aconteceu
ou que foi dito naquele verão horrível
dez anos atrás, se Francine precisa de mim
eu vou estar aqui para ela, para segurar
sua mão e fazê-la saber que não esta sozinha.
Eu devo isso a ela, não da pra ver? 
Nos olhos dela, encontrei o meu santuário.
E agora, quando a vida é feita de sombras
bloqueando o sol, Francine também procura por isso.
Mas não é irônico que ela procure em mim
por algo que vi nela todo esse tempo?
Não sei, talvez o santuário não seja
realmente encontrado no sol, na neve ou
nas lagrimas da pessoa amada.
Talvez, quando é o momento certo,
essas coisas simplesmente captem o reflexo
de nossa própria alma e nos lembrem de
quem realmente somos e de eu nosso lar
nunca esta tão longe assim – apenas além das silhuetas que escurecem o sol. 
Por causa dessas duas paginas, é que o arco Santuário me pegou de jeito e me fez querer escrever sobre o que já foi publicado de Estranhos no Paraíso até aqui no Brasil. Eu nunca vi texto e imagem (um traço quase vivo) se casarem de uma forma tão perfeita, pois não só nos emocionamos com os pensamentos de Katchoo, como também nas imagens de uma Francine apertando fortemente a mão em sua boca, pois da a entender que ela não está acreditando no que está vendo, que o seu santuário de paz está a sua frente. Acima de tudo, foi um texto que me identifiquei muito, que me fez mudar de opinião sobre certos pensamentos pessoais que eu tinha ao longo desses anos e que me fez revisitar o passado, mesmo ele não estando ao meu alcance.
Após essa explosão emocional de imagens e texto, Terry Moore intensifica mais ainda o casório de HQ + literatura. Da pagina 55 á 62, existe paginas somente com textos, onde descreve a conversa das duas protagonistas após o encontro na cozinha, sendo que as paginas ao lado somente ilustram uma única imagem, mostrando ambas sentadas nos fundos da casa. O dialogo explora ainda mais o que havia acontecido com ambas durante os anos que ficaram separadas, mas deixa certas questões no ar, como o fato do verdadeiro destino de David no futuro. O restante do arco retorna ao presente, onde vemos o primeiro conflito das amigas.
Embora tenhamos ficado confortáveis sabendo que no futuro elas se reencontrariam, não tem como não ficar tenso durante a primeira discussão de ambas, que chega a um ponto de elas serem muito cruéis uma com a outra. O caso que ambas estão certas, mas ao mesmo tempo ambas estão erradas em diversas questões: Katchoo jamais foi muito sincera com a sua amiga com relação a certas passagens do seu passado, e com o fato de esconder isso de Francine, acaba colocando a amizade com a sua amiga em cheque. Já Francine, ao negar os verdadeiros sentimentos que sente por Katchoo, sempre fez com que a relação entrasse numa verdadeira montanha russa de idas e vindas e sem saber no que vai dar. Ambas se amam, mas nunca souberam exatamente administrar esses sentimentos que tinham uma pela outra.

O conflito chega ao ponto, que acreditamos que foi essa passagem em suas vidas que as levou a não se verem mais, mas até termos certeza disso, Terry Moore cria momentos de alivio cômico, como o fato da personagem Casey, que é casada com o famigerado Fred Femurs, começar a dar em cima de David, principalmente após o seu marido escancarar a sua obsessão que ainda tem por Francine. Ao mesmo tempo, novamente o universo de Darcy Parker retorna para bater a porta na vida dos protagonistas, mas dessa vez (aparentemente) os deixa numa sensação de puro êxtase. Em meio a tudo a isso, Francine retorna para casa e decidida a se entregar ao amor por Katchoo, mas como sempre, surge algo para não acontecer exatamente isso.  
O final do arco termina com momentos muito engraçados, principalmente protagonizados por Casey, que ao longo da série irá ter sua participação aumentada. Mas embora (aparentemente) todos tenham terminado juntos novamente, os últimos quadrinhos deixam um grande gancho para o próximo arco, onde o mundo de Darcy Parker irá retornar para deixar a vida dos protagonistas do avesso. Mas embora eu considere que esse final não tenha terminado de uma forma perfeita (que difere do seu inicio arrebatador), Santuário é desde já a melhor HQ do ano, por fazer mexer com os nossos sentimentos, e como eu disse acima, faz com que a gente repense sobre certas questões da vida, como amor, amizade e escolhas que tomamos ao longo de nosso percurso.
O mal disso tudo, é temer a possibilidade de tão cedo a editora HQM não publicar o próximo arco, sendo que  tem  ainda mais dez volumes pela frente,  para então finalmente chegar ao seu final. Torcer para que essa demora de lançamento de arco para outro não aconteça, pois Estranhos no Paraíso é leitura obrigatória, não só para fãs que curtem HQ de qualidade, como também para aqueles que curtem uma bela historia sobre seres humanos comuns, com os seus sentimentos conflitantes e até aonde podem ser levados por eles.   
Leia mais sobre Estranhos no Paraíso: Parte 1234 e 5.

Me Sigam no Facebook e Twitter:  

4 comentários:

LEO disse...

Foi uma ótima HQ essa mesmo.... de todos os arcos, este foi o único q eu li (por enquanto)!!!

gostei pq reflete a vida como ela é mesmo... uma colcha de retalhos de amizades q vem e vão ao longo dos anos (a maioria nunca mais volta, e raras são as amizades q prevalecem)!!!

Abs!!

Marcelo Castro Moraes disse...

Pois é Leo, os poucos amigos que me restaram tento manter contato ao máximo hoje em dia e depois dessa leitura, tenho me dedicado mais a isso ainda.

Simone Teodoro disse...

Olá Marcelo!
obrigada por visitar meu blog!
Gosto muito de Estranhos no paraíso , mas lamento muito que as publicações da HQ aqui no Brasil tenham sido tão inconstantes.
O poema no meu blog não é da revista e sim uma espécie de "resposta" a um dos poemas da kachoo. É de minha autoria.

abraços!

Marcelo Castro Moraes disse...

Pois é Simone, Estranhnos no Paraiso sofreu muito em diversas editoras, mas parece que ainda esse ano será publicado mais dois volumes.